R CARDOSO DE ALMEIDA

Parte do arruamento original do Bairro das Perdizes levado a efeito pelos idos de 1890, a atual Rua Cardoso de Almeida foi inicialmente denominada como Rua Thabor. E por que Tabor? De acordo com as informações de José Aranha de Assis Pacheco, autor do livro “Perdizes: história de um bairro”, a explicação é das mais simples: os primeiros moradores do bairro, trilhando uma rua em acentuado aclive, seguiram pela crista do morro que, de um e de outro lado, decaía o terreno formando as vertentes dos riachos Pacaembú à esquerda e Água Branca à direita. Ao atingirem o ponto máximo – o cume da colina (atual cruzamento das ruas Cardoso de Almeida e Caiubi) ocorreu-lhes num momento de religiosidade ou lirismo, a evocação da colina da Galileia onde se deu a Transfiguração do Senhor. E foi dessa maneira que esta rua passou a ser chamada de Rua Tabor, já assim denominada em 1895 conforme documentos municipais. A denominação de Rua Cardoso de Almeida, por sua vez, foi sugerida pelo vereador Raymundo Duprat através do Projeto de Lei nº 21 do dia 22/06/1907. Inicialmente ele pretendia aplicar este nome à antiga Travessa da Caixa D´Água (atual Rua Barão de Paranapiacaba, localizada no centro da cidade). Entretanto, a Comissão de Justiça argumentou que esta alteração não seria possível e sugeriu que o nome de Cardoso de Almeida fosse dado à "Rua Thabor", no bairro de Perdizes. Neste parecer, emitido no dia 07/12/1907, a mesma Comissão justificou que era "de justiça a aprovação da manifestação lembrada, atendendo-se aos muitos serviços prestados a esta cidade pelo dr. Cardoso de Almeida nos vários cargos públicos que tem ocupado, mas é de parecer que seja preferida a Rua Thabor para receber esta denominação, por ali possuir o dr. Cardoso de Almeida uma propriedade de certa importância em formação". Aproveitando a ocasião, o então vereador Carlos Garcia completou: “Declaro que tenho sido sempre contrário à mudança de nomes das ruas, tendo lembrado até a nomeação de uma comissão para rever a nomenclatura das nossas vias públicas. Estava mesmo resolvido a não apoiar nenhum projeto que se cuide de homenagear a cidadãos vivos (como era o caso de Cardoso de Almeida), dando os seus nomes às ruas da cidade. Entretanto, o parecer da Comissão de Justiça é de tal modo eloquente, provando ter o dr. Cardoso de Almeida prestado reais serviços ao Estado e ao país, que não posso deixar de dar o meu voto ao projeto.” Este projeto foi aprovado pela Câmara no dia 07/12/1907, transformando-se na Lei nº 1.061 de 18/12/1907. Conforme referendado na Justificativa dos vereadores, o Dr. Cardoso de Almeida possuía uma chácara no bairro das Perdizes que, através do mapa da cidade de 1930, pode ser localizada na esquina das Ruas Caiubi e Atibaia, ocupando mais da metade desse quarteirão. Em 1938 esta mesma chácara foi vendida pela família Cardoso de Almeida aos dominicanos recém chegados a São Paulo que ali construíram o conjunto de edifícios incluindo a igreja de São Domingos e Convento dos Dominicanos, atualmente tombados pelo Condephaat e Conpresp.     

José Cardoso de Almeida nasceu em Botucatu (SP) no dia 8 de setembro de 1867, filho do imigrante português Antônio Joaquim Cardoso de Almeida e de d. Maria Amélia Amaral de Barros. Seu pai, rico comerciante e fazendeiro de café, foi figura de destaque na política de Botucatu. O casal Antonio Joaquim e d. Maria Amélia tiveram, além de José Cardoso de Almeida, os filhos Antonio, Custódio e Armindo Cardoso de Almeida. Antonio, o irmão mais velho, foi deputado estadual e prefeito de Botucatu e fundou, na companhia de seus irmãos, a Companhia Paulista de Força e Luz – CPFL, além da Cia. Paulista de Seguros. José Cardoso de Almeida formou-se pela Faculdade de Direito do Largo de São Francisco em 1890 e, com escritório aberto, advogou em São Paulo até 1893. Em 1894 foi eleito deputado estadual pelo Partido Republicano Paulista para o período de 1895 a 1897, e integrou a Comissão de Instrução Pública da Assembleia Legislativa. De 24 de abril a 15 de junho de 1897, respondeu interinamente pela Secretaria de Justiça, no governo de Campos Sales (1896-1897). Foi reeleito deputado estadual para o período de 1901 a 1903, tendo sido escolhido primeiro-vice-presidente daquela Assembleia. No desempenho de seu mandato, destacou-se na defesa de diferentes temas como as divisas municipais a construção da linha de carris de ferro de São Paulo para Santo Amaro, na reorganização da Força Pública, nomeação dos oficiais de justiça, orçamento e criação de escolas. Entre estas, cabe citar duas escolas que seriam efetivamente criadas: o Grupo Escolar José Alvim, hoje Escola Estadual José Alvim, no município de Atibaia, instalado em 1905, e o Grupo Escolar do Pari, atual Escola Estadual Orestes Guimarães, em 1904. No primeiro governo de Rodrigues Alves em São Paulo (1900-1902), licenciou-se do Congresso Legislativo por ter sido nomeado chefe de Polícia do estado, cargo que exerceu de 1901 a 1902. Nesse último ano elaborou um relatório no qual destacava que a melhoria da Polícia paulista só seria possível com a criação de uma carreira profissional que garantisse acesso progressivo aos diversos cargos. Daí surgiu uma proposta de ampla reformulação da Polícia Civil, visando sua transformação em uma instituição de carreira. Com base nessa proposta, o então presidente do estado, Jorge Tibiriçá, apresentaria projeto que seria transformado na Lei nº 979 aprovada aos 23/12/1905, criando a Polícia Civil de Carreira do Estado de São Paulo. Ainda em sua gestão à frente da Polícia paulista, foi assinado convênio para a vinda da Missão Militar Francesa, que tinha por objetivo a profissionalização da instituição. Os franceses permaneceriam em São Paulo de 1906 a 1914, respondendo pela formação da Polícia paulista, que ganhou alto padrão de organização e disciplina militar. Após deixar o cargo de chefe de Polícia em 1902, foi nomeado diretor do Banco de Crédito Real, cargo que exerceu de 1903 a 1904. No governo de Jorge Tibiriçá, voltou a ocupar interinamente a Secretaria do Interior e da Justiça, de fevereiro a março de 1906. Neste cargo, desempenhou um importante papel na implementação da Pinacoteca do Estado. Naquela época, o atual edifício da Pinacoteca era ocupado pelo Liceu de Artes e Ofícios e Cardoso de Almeida solicitou que uma parte de seus salões fosse destinada à Pinacoteca. Aberta no dia 24 de dezembro de 1905, coube a Cardoso de Almeida a honra de proferir o discurso inaugural. Posteriormente foi nomeado secretário da Fazenda. Após deixar a Secretaria da Fazenda, ainda no mesmo ano, foi nomeado diretor da Companhia Paulista de Seguros Marítimos e Terrestres. Essa empresa, depois de diversas incorporações, passaria a integrar a Liberty Paulista Seguros, uma das maiores do Brasil. Em 6 de julho de 1906 elegeu-se deputado federal por São Paulo e assumiu sua cadeira na Câmara dos Deputados no Rio de Janeiro, então Distrito Federal. Foi reeleito em 1909 e 1912. Renunciou ao mandato de deputado federal em 1912 para assumir a Secretaria da Fazenda de São Paulo, no segundo governo de Rodrigues Alves (1912-1916), e continuou no cargo no governo de Altino Arantes (1916-1920). Administrador respeitado, tanto no trato de empresas privadas como de órgãos públicos, quando Delfim Moreira assumiu a presidência da República (1918-1919) deixou a Secretaria da Fazenda de São Paulo para assumir a presidência do Banco do Brasil. Foi mais uma vez eleito deputado federal em março de 1930. Empossado, tornou-se líder da bancada paulista. Diante da confirmação de boatos sobre a existência de agitações revolucionárias nas forças armadas em São Paulo, Minas Gerais, Paraíba e Rio Grande do Sul, apresentou o Projeto de Lei nº 293/30, subscrito pela maioria parlamentar, declarando em estado de sítio o Distrito Federal e os estados mencionados até 31 de dezembro daquele ano. O projeto autorizava o presidente da República a estender o estado de sítio a outros pontos do território nacional, onde fosse necessário, e liberava as operações de crédito para as despesas extraordinárias exigidas pelas circunstâncias. O projeto foi aprovado, sendo sancionado pelo presidente Washington Luís (1926-1930) na noite de 4 de outubro de 1930. Mas, o esforço foi em vão: a chamada Revolução de 1930 foi vitoriosa, e em 3 de novembro Getúlio Vargas chegou ao poder. Com a vitória dos revolucionários, todos os órgãos legislativos do país foram extintos e Cardoso de Almeida foi exilado na Europa. Faleceu em Paris no dia 5 de outubro de 1931. O Dr. Cardoso de Almeida foi casado com d. Ismênia Azevedo Cardoso de Almeida (ela irmã do arquiteto Ramos de Azevedo) e teve dois filhos: Mário Cardoso de Almeida, casado com d. Alexandrina Nogueira Cardoso de Almeida, e Lauro Cardoso de Almeida, casado com Esther Correa Dias Cardoso de Almeida. 

Começa na Praça Padre Péricles e termina na Avenida Dr. Arnaldo

Nomes anteriores: Rua Thabor e Rua Tacito de Almeida

Fonte: Dic.Ruas