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LG DONA ANA ROSA

Vila Mariana

A história do Largo Dona Ana Rosa teve início pelos idos de 1897, ocasião em que o prédio do Instituto Dona Ana Rosa começou a ser construído no lado impar da Rua Vergueiro, praticamente em frente da atual Av. Conselheiro Rodrigues, em terreno doado pelo Sr. Nicolau de Souza Queiroz. Assim, e para compor com o novo edifício, decidiu-se pela abertura de uma praça em frente, aproveitando-se os terrenos entre as Ruas Vergueiro e Domingos de Morais. Em julho de 1898, as obras do Instituto Dona Ana Rosa já estavam bem adiantadas, e justamente por isso o vereador Gomes Cardim tomou a dianteira e, no dia 09/07/1898, apresentou um projeto de lei que declarava de utilidade pública os terrenos e prédios em frente do edifício. Claro que este ato implicava também no pagamento pela área desapropriada, fato esse que causou certo embaraço à sua efetivação. Verificado o problema, no dia 21/09/1898 o vereador Veiga Filho sugeriu a transferência do direito de desapropriação para o próprio Instituto Dona Ana Rosa, ideia esta que foi aprovada dando origem à Lei nº 370 de 26/09/1898. Entretanto, também o Instituto não teve condições de arcar com as despesas de desapropriação. O novo edifício foi inaugurado em 1899, mas a praça ainda não era uma realidade. Este assunto somente voltaria a ser discutido no dia 23/07/1904, ocasião em que o vereador José Oswald (pai do escritor Oswald de Andrade) novamente propôs a desapropriação da mesma área para a constituição do largo, fato este que deu origem à Lei nº 843 de 14/09/1905. Por essa época, toda a área do Largo pertencia do dr. Antonio de Queiroz Telles que, mediante negociações, aceitou vender para a Prefeitura o terreno necessário pelo valor de 12 contos e 600 mil réis (Lei nº 968 de 09/01/1907). A partir de então, o largo foi aberto, mas permaneceu sem qualquer tratamento paisagístico. Em 1909 o local estava às escuras, numa situação que chamou a atenção do vereador Joaquim Marra, que solicitou a implantação de iluminação no local. Mas, o abandono continuou, tanto que em 1912 o mato crescia alto, necessitando ser capinado. No dia 13/12/1913, e já bastante incomodado com a situação, o mesmo vereador José Oswald faz uma reclamação: “Com a finalidade de construir um jardim para recreio dos habitantes de Vila Mariana, a Câmara adquiriu há muitos anos uma quadra de terrenos situada em frente do Instituto D. Ana Rosa. Entretanto, esse terreno se acha completamente abandonado e sem nenhum benefício e, por isso, indico ao Sr. prefeito a necessidade de sem mais demora mandar ajardiná-lo.” Nada resolvido, no dia 22/07/1916, o vereador João José Pereira faz nova reclamação: “Peço ao ilmo Sr. prefeito para que mande fazer o jardim da praça em frente do Instituto D. Ana Rosa, na rua Domingos de Morais; este melhoramento é reclamado há muitos anos pelos moradores de Vila Mariana sem até hoje serem atendidos; parece-me que se deve tomar em consideração, pois aquele pedaço de terra faz parte dos domínios municipais.” A 05/08/1916 é destinada uma verba de pouco mais de 29 contos de réis para as obras que, finalmente, tiveram início. Um belo jardim foi então construído no local e que perdurou até finais da década de 1960, ocasião em que a linha Norte-Sul do Metrô começou a ser construída. Ao se determinar que uma das estações seria construída no Largo D. Ana Rosa, esta área passou por profundas transformações. A abertura da estação ao público, já com o Largo totalmente reformulado, ocorreu no dia 17/02/1975.

Dona Ana Rosa de Araújo nasceu em São Paulo e foi batizada no dia 04 de setembro de 1778, na igreja da Sé. Era filha do capitão Manoel Antonio de Araújo, de nacionalidade portuguesa, e de d. Ana Joaquina de Andrade. No livro de batismos da Sé consta o seguinte registro de Ana Rosa: “Anna – Aos quatro de setembro de 1787 nesta Sé batizou e pôs os Santos Óleos o Reverendo Provisor Luiz Teixeira Leitão a Anna, filha do Capitão Manoel Antonio de Araújo e de sua mulher d. Anna Joaquina de Andrade. Foram padrinhos o Padre Manoel Francisco de Andrade e sua mãe d. Anna Maria de Sales, viúva, todos desta Freguesia de que fiz este assento que assinei. O Cura Firmiano Dias Xavier.”

Seu pai, que já enviuvara por duas vezes antes de se casar com d. Ana, faleceu em 1789 no posto de Mestre de Campo. Nessa época, Ana Rosa estava com 11 anos de idade. Em 1792 sua mãe se casa pela 2ª vez com o capitão Manoel Galvão de França, pertencente a uma rica e tradicional família de Guaratinguetá. Como curiosidade, lembramos que Manoel Galvão de França, falecido poucos anos depois desse casamento, era irmão do conhecido Frei Galvão – hoje Santo Antonio de Santana Galvão, canonizado em 2007. Novamente viúva, em 1795 d. Ana Joaquina se casa pela 3ª vez com João Lopes de França, ele sobrinho de seu falecido marido.

Como pode ser visto, o relacionamento entre as duas famílias era muito grade, tanto que a única irmã de D. Ana Rosa, Maria Tereza de Araújo, se casa com José Manoel de França, ele filho de Manoel José da Costa e Agueda Maria Galvão. Após herdar grande fortuna de seu pai, José Manoel de França mudou-se para São Paulo e exerceu vários cargos como o de vereador da Câmara de São Paulo, deputado provincial e vice-presidente da Província. Este casal não teve filhos.

Ana Rosa, por sua vez, casou-se tardiamente, aos 28 anos de idade com o capitão Inácio Correa Galvão Freire, natural de Guaratinguetá, e também membro da família Galvão de França, pois era filho do alferes Francisco Nabo Freire e de d. Francisca Galvão de França que também assinava Francisca Xavier de França. Cabe observar que no século XIX, as moças se casavam muito cedo para os nossos padrões, já a partir dos 14 ou 15 anos de idade; por isso o casamento “tardio” de d. Ana Rosa, aos 28 anos de idade. O casamento de Ana Rosa foi realizado em oratório particular de seu padrasto João Lopes de França no dia 19/11/1815 conforme o registro no livro de casamentos da Sé, 1812-1833, página 47 verso:

“Capitão Ignacio Correa Galvão e Dona Anna Rosa de Araujo. Aos dezenove de novembro de 1815, no oratório do capitão João Lopes de França, às cinco horas da tarde, dispensadas as diligências de costume, tudo com provisão do Exmo e Revdo Senhor Bispo Dom Matheus de Abreu Pereira, em presença do Reverendo Vigário Colado de Jundiaí Manoel Francisco de Andrada e das testemunhas abaixo assinadas, o Brigadeiro José Arouche de Toledo Rendon, casado, freguês de Santa Efigênia, e do capitão João Lopes de França, casado, freguês desta, se receberam em matrimônio por palavras de presente o capitão Ignacio Correa Galvão, natural da Vila de Guaratinguetá, filho legítimo do alferes Francisco Nabo Freire e de sua mulher d. Francisca Galvão de França, e Dona Anna Rosa de Araújo, natural desta cidade, filha legítima do mestre de campo Manoel Antonio de Araújo, já falecido, e de sua mulher Dona Ana Joaquina de Andrada, e do que lhes deu as bênçãos na forma do ritual Romano.”

Este casamento, entretanto, pouco durou. Menos de um ano depois, Ana Rosa entrou com uma ação de divórcio no juízo Eclesiástico de São Paulo. Ana Rosa estabeleceu procuradores em São Paulo, Rio de Janeiro, Bahia e Itu e, muito bem assistida e baseada em forte argumentação, obteve sucesso e o divórcio foi decretado no dia 20/08/1816. As fortes razões aceitas para o divórcio – algo bastante incomum naquela época – basearam-se no fato de que Inácio Correa Galvão já possuía mulher e filhos naturais em Guaratinguetá na época em que se casou com Ana Rosa. Após o divórcio, Ana Rosa não mais se casou e viveu durante toda a sua vida na ampla residência que a família possuía na Rua da Imperatriz (antes Rua do Rosário e atual XV de Novembro) dedicando-se à caridade. Em 1856, por exemplo, doou 20 mil réis como parte de uma subscrição para ser aplicado na construção de manutenção de enfermarias para os pobres diante da ameaça de uma epidemia de varíola na cidade; em 1868 doou 200 mil réis para a Santa Casa de Misericórdia, dentre outras muitas outras doações. Quando de seu falecimento, ocorrido no dia 09/06/1872, aos 85 anos de idade, seu testamento foi aberto e com grande surpresa verificou-se que sua fortuna estava calculada em 228:887$337 (228 contos de réis), sendo que pelas suas disposições, ¼ desse valor caberia ao seu testamenteiro que foi o senador Francisco Antonio de Souza Queiroz, o barão de Souza Queiroz. O restante, conforme a vontade de Ana Rosa, deveria “ser distribuído em esmolas a pobres, a arbítrio do testador, o qual, querendo, poderá aplicar também alguma quantia em obras pias.” O Barão de Souza Queiroz, dando aplicação a esse dinheiro, criou o Instituto Dona Ana Rosa, destinado a asilar e manter crianças pobres, proporcionando-lhes também instruções geral e ensino profissional. O Instituto foi fundado a 10/11/1874 e começou a funcionar no dia 08/04/1875. Após ocupar vários prédios, foi transferido para o edifício da Rua Vergueiro, inaugurado em 1899. D. Ana Rosa foi sepultada no cemitério do Carmo conforme o registro no livro de óbitos da Sé:

“Dona Ana Rosa de Araújo – aos  nove de junho de 1872, nesta Freguesia, faleceu de Marasmo e com 85 anos de idade, com todos os sacramentos, Dona Ana Rosa de Araújo, viúva, desta Paróquia. Encomendada, foi sepultada no cemitério da Ordem Terceira do Carmo.”   

Fontes: Arquivo da Cúria Metropolitana de São Paulo, “Genealogia Paulistana” de Silva Leme, “Os Galvão de França no povoamento de Santo Antonio de Guaratinguetá” de Carlos Eugênio Marcondes de Moura, “Uma teia de famílias” de Marcelo Barbio disponível em http://www.marcelobarbio.net.br/, “Justiça e representações femininas: o divórcio entre a elite paulista (1765-1822)” de Aline Antunes Zanatta (Dissertação de Mestrado, História, USP), Correio Paulistano 04/01/1856, 12/09/1868, 11/06 e 25/07/1872, Diário de São Paulo de 11/06 e 08/10/1872. A respeito do Instituto D. Ana Rosa veja https://anarosa.org.br/o-instituto-ana-rosa-e-a-historia-de-sao-paulo/

Fica entre as Ruas Domingos de Moraes e Vergueiro. B. Vila Mariana.

Fonte: Dic.Ruas

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