AV POMPEIA

O bairro da Pompeia, onde esta avenida foi aberta, chamava-se, em 1759, “Sítio do Pacaembu de Baixo” e era propriedade dos padres Jesuítas. Após desmembramentos, parte dessa grande área foi adquirida pela família Goulart Penteado, ocasião em que passou a ser conhecida como Fazenda do Bananal, sendo administrada pelos irmãos Virgilio Goulart Penteado e João Goulart Penteado (eles filhos de Joaquim Rodrigues Goulart e Maria Bernarda Leite Penteado). Após muitas tratativas, em 1912 a Companhia Urbana e Predial adquire esta gleba para, em seguida, abrir um novo loteamento na cidade que recebeu o nome de “Vila Pompeia”. O primeiro logradouro que se formou foi esta grande avenida ao qual a empresa deu o nome de Avenida Pompeia. No dia 25 de agosto de 1912, o jornal O Estado de São Paulo anunciava que “A Companhia Urbana Predial contratara a Cia. União Mútua para a construção de uma vila operária na Vila Pompéia”, dando início assim às construções de casas no novo bairro.

A Companhia Urbana e Predial, por sua vez, pertencia à rica família Rocha Miranda, esta composta por grandes empresários, banqueiros e comerciantes estabelecidos em São Paulo e no Rio de Janeiro. Dentre eles estava o senador Rodolfo Nogueira da Rocha Miranda, filho do fazendeiro Luis da Rocha Miranda Sobrinho, o Barão de Bananal. O senador Rodolfo Miranda foi casado com d. Aretusa de Castro Pompeia (depois do casamento Aretusa Pompeia da Rocha Miranda), cujo sobrenome foi utilizado para denominar tanto o novo bairro quanto a avenida que, a partir de então foi chamada de Avenida Pompeia. Interessante notar que além desta avenida e do bairro na Capital, a cidade paulista de Pompeia também deve seu nome à d. Aretusa Pompeia, uma vez que aquele município também foi fundado pelo senador Rocha Miranda. E da mesma forma, o sobrenome “Miranda” (da família Rocha Miranda) foi igualmente utilizado para batizar uma cidade paulista e um bairro paulistano, ou seja, “Mirandópolis”.   

A homenageada:

Aretusa de Castro Pompeia nasceu na cidade de Resende (RJ), filha do comendador Manuel de Castro Pompeia e de d. Tereza Jardim Pompeia e faleceu em São Paulo no dia 19 de dezembro de 1957, aos 89 anos de idade, tendo sido sepultada no cemitério da Consolação. Casou-se com o fazendeiro e empresário Rodolfo da Rocha Miranda e teve o filho Luis Rodolfo da Rocha Miranda. Foi uma grande dama da sociedade paulistana, tendo dedicado grande parte de sua vida às atividades beneficentes. Em 1911, por exemplo, esteve à frente de diversas campanhas para arrecadação de fundos em prol do Instituto de Assistência à Infância; em 1928 participou ativamente da fundação do Instituto Profissional de Cegos Padre Chico (Instituto Padre Chico) e, em homenagem a ele, sugeriu que uma das ruas do novo bairro da Pompeia recebesse o nome de “Rua Padre Chico”. Em 1935 esteve ao lado de várias outras senhoras da sociedade que constituíram a “Ação Paulista de Solidariedade Social.” A relação familiar de d. Aretusa Pompeia também se fez representar em outro logradouro do mesmo bairro da Pompeia através de seu primo, o escritor e poeta Raul Pompeia, personagem este homenageado na Rua Raul Pompeia.

Fontes: Correio Paulistano 22/11/1911, Diário Nacional (SP) 16/09/1928, O Estado de São Paulo 10/03/1935 e 20/12/1957.

Curiosidades:

- Aberta a partir de 1912, a Av. Pompeia permaneceu sem calçamento até 1920, época em que a prefeitura contratou uma empresa para “a execução do serviço de calçamento a paralelepípedos comuns na avenida Pompeia, entre a avenida Água Branca e a travessa Sete.” (O Estado de São Paulo 31/12/1919) A travessa Sete é a atual Rua Guiará.

- Em 1923, através da Lei nº 2.613 de 27 de junho, ficou estabelecido que “nenhum prédio poderia ser construído na Av. Pompéia sem ficasse entre o alinhamento e a frente do prédio um espaço de 4 metros, pelo menos, para jardim ou plantação de arvoredo.” Essa disposição era aplicada pela prefeitura em grandes avenidas como a Paulista e a Angélica.

- No dia 1º de fevereiro de 1925 foi realizada a cerimônia de lançamento da pedra fundamental da Escola Nossa Senhora do Rosário de Pompeia, que foi construída pela Associação Católica de N. Sra. do Rosário de Pompeia. A escola foi inaugurada no dia 31 de janeiro de 1926. (O Estado de São Paulo, edições dos dias 30/01/1925 e 27/01/1926)

Igreja de Nossa Senhora do Rosário de Pompéia

- As primeiras informações sobre a construção de uma igreja no bairro da Pompéia datam de 1916, ocasião em que a Companhia Urbana Predial publicou um anúncio nos jornais da cidade convidando os acionistas para uma reunião que se realizaria no dia 19/08/1916 e onde analisariam um pedido de doação de terreno na Vila Pompeia para a mitra arquidiocesana para a construção de uma igreja (O Estado de São Paulo 11/08/1916). Apesar da divulgação, esta reunião não foi realizada por falta de quórum e, tão pouco, a segunda, marcada para o dia 26 de agosto (O Estado de São Paulo 20/08/1916). Por conta disso, uma terceira reunião foi chamada para o dia 2 de setembro (O Estado de São Paulo 02/09/1916), e da qual não temos conhecimento dos resultados.

Ao que tudo indica, esta doação não foi concretizada, uma vez que no dia 31 de agosto de 1917, o médico Dr. Cláudio de Sousa encaminhava um requerimento à Prefeitura nos seguintes termos:

"Exmo. Sr. Dr. Prefeito Municipal de São Paulo

O abaixo assinado requer à V. Exa. Licença para construir uma capela chamada SANTUÁRIO DA NOSSA SENHORA DO ROSÁRIO com anexa moradia para o Vigário, em seu terreno sito à AVENIDA POMPEIA, na Vila Pompeia, no interior da 6ª quadra, de acordo com a planta e memorial anexo.

São Paulo 31 de agosto de 1917

O proprietário: Dr. Claudio de Souza" (Fonte: Obras Particulares, 1917, Arquivo Histórico Municipal)

Ao declarar que o terreno lhe pertencia, fica configurado que o Dr. Claudio de Souza havia adquirido a área onde a capela – e depois a igreja foi, de fato, foi construída.

Importa notar que ao analisar este pedido no dia 22/09/1917, os vereadores da Câmara Municipal destacaram alguns pontos interessantes para a história da Vila Pompeia. Naquela ocasião, algumas comissões foram ouvidas e a primeira a apresentar suas conclusões foi a de Justiça, que apresentou seguinte parecer aprovando o requerimento:

“O dr. Claudio de Sousa pede à Câmara Municipal que seja concedida aprovação de plantas e licença para a construção de um templo na Vila Pompeia, independentemente, ou com isenção dos pagamentos dos emolumentos respectivos, alegando que se trata de uma obra de arte, de interesse coletivo e sem nenhum fito especulativo. Ouvida a respeito a Prefeitura, esta informou que se trata da construção de um templo que obedecerá a um plano arquitetônico e que, embora não se trate de uma obra de arte, virá, no entanto, concorrer para o embelezamento do lugar. O requerimento, memorial e plantas oferecidos pelo requerente à Prefeitura, e que se acham juntos a estes papéis, demonstram que se trata, de fato, de uma construção que, sob a denominação de Santuário de N. Senhora do Rosário, está projetada, afim de ser erigida na Vila Pompeia, e será destinada ao culto católico, obedecendo a um plano arquitetônico, construção que, indubitavelmente, virá concorrer para o embelezamento aludido pela Prefeitura. Assim sendo, de acordo com outros precedentes e atendendo a que se trata de uma construção sem fim lucrativo, parece que a Câmara deve conceder as isenções pedidas, com as cautelas que os doutos suplementos da comissão de obras e finanças julgarem convenientes.”

Em seguida, a Comissão de Obras também apresenta seu parecer favorável ao requerimento com a seguinte argumentação:

“Tratando-se, como no caso presente, da ereção de uma capela de pequenas proporções, em bairro afastado e pouco populoso como é o de Vila Pompeia, a comissão de obras, ainda que reconheça não ser o projeto apresentado uma obra de arte (e que somente em tal condição se deveriam conceder as isenções e emolumentos devidos), é de parecer que a Câmara conceda a isenção pedida, uma vez que a digna comissão de finanças assim julgue conveniente.”

Como pode ser visto, a questão principal não se referia à aprovação do projeto para a construção da capela, mas sim à solicitação do proponente para isentá-lo das taxas. E especificamente sobre essa questão a Comissão de Finanças colocou alguns obstáculos conforme segue:

“Pede-se nestes papéis dispensa de emolumentos sobre construção e aprovação de planta relativa à projetada construção de uma igreja no lugar denominado Vila Pompeia. O peticionário justifica a pretensão classificando o projeto como de uma obra de arte de interesse coletivo. Pelas informações, porém, o projeto não passa de um plano arquitetônico comum, sendo o tempo de diminutas dimensões. Erguida em lugar ermo, onde várias ruas se acham traçadas, a construção de um templo atrairá moradores, que exigirão melhoramentos custosos. Não convindo aos interesses financeiros do Município o ampliamento da área da área da cidade, pelos ônus que as novas ruas lhe acarretarão, e sendo a atual área suficiente para o triplo da população ora existente na cidade, a comissão de finanças opina pelo indeferimento do requerimento e pelo arquivamento destes papéis.”

A partir dessas considerações da Comissão de Finanças, o então vereador Rafael Gurgel pede a palavra:

“Sr. presidente, era a minha intenção apresentar um substitutivo às conclusões do parecer da comissão de finanças quando opina pelo arquivamento do requerimento feito pelo dr. Claudio Júnior, relativamente à construção de uma igreja na Vila Pompeia. O substitutivo que visava concluir de acordo com o parecer da comissão de justiça, isto é, pela concessão do pedido, se justificava plenamente, pois, sempre ou quase sempre, a Câmara tem concedido favores idênticos e é certo que as razões em que a comissão de finanças se estribou para negar o requerido, não desaparecendo ante o pagamento dos emolumentos, o Município se veria obrigado do mesmo modo à contribuir com os esforços ou serviços para aquela área da cidade, em consequência da construção, e isto quer o requerente pague ou não os emolumentos. No entanto, estou informado de que o requerente acaba de se dirigir novamente à Prefeitura propondo-se a pagar os emolumentos para aprovação da respectiva planta. Nestas condições, parecem-me que não há razão para sustentação do parecer da comissão de justiça, visto como é a própria parte interessada que abandonou a pretensão que tinha perante à Câmara para se dirigir novamente ao executivo sujeitando-se ao pagamento dos emolumentos. Portanto, como membro da comissão de justiça, e por ela e como vereador, declaro que não me oporei ao parecer da comissão de finanças, que conclui pelo arquivamento do requerimento”

Colocado em votação, os pareceres foram aprovados e no dia 26 de setembro de 1917 publicava o jornal O Estado de São Paulo:

“PLANTAS APROVADAS – Acham-se aprovadas na Diretoria de Obras e Viação as seguintes plantas: do dr. Claudio de Souza, para construir capela na avenida Pompeia (...)”

O projeto dessa antiga capela, cuja fachada guarda semelhança com a da atual igreja, trazia um medalhão com o seguinte dístico em latim: Regina Sacratissimi Rosari e abaixo, também em latim: Adeamus Ad Thronum Gratiae

A respeito do Dr. Claudio de Souza, veja sua biografia em Rua Doutor Cláudio de Sousa, localizada no Bom Retiro.

Começa na Av. Francisco Matarazzo e termina na Rua Heitor Penteado.

Fonte: Dic.Ruas